PUNO E LAGO TITICACA - PARTE I




     Chegamos em Puno por volta das 5h da manhã. Tomamos um táxi com duas uruguaias e fomos para o hotel que havíamos feito as nossas reservas de tours.
     Tínhamos que esperar até ás 8h, quando tomaríamos o barco no Lago Titicaca. Com um pouco de atraso, uma grande van nos pegou na porta do hotel e nos levou até o barco. Fiquei surpreendida positivamente, achei tudo muito bom e confortável. Formamos um grupo bacana no barco, com outros brasileiros, uns franceses, uns austríacos e um casal da Galícia, que mais tarde viriam a ser nossos companheiros por mais alguns dias.



       Depois de algum tempo "navegando" e ouvindo o nosso guia explicar tudo sobre o Lago e as ilhas, chegamos em uma das Ilhas Flutuantes de Uros. Fomos recebidos pelas famílias que moravam ali. Eles cantaram, fizeram uma dancinha e nos mostraram o que era a Totora, uma planta que se desenvolve ali no Titicaca e que é a base de tudo na vida deles (as ilhas são feitas de Totora, as casas são feitas de Totora, as roupas são feitas com fibras de Totora e eles comem a tal Totora). Então, o "chefe" da pequena ilha nos mostrou como eles faziam para formar aquela ilha, que é artificial. Terminadas as explicações, o tal chefe levou nosso grupo para um passeio em um pequeno barco (de Totora, claro!) ao redor da ilha. No final do breve passeio, olhou pra gente e - antes de "ancorar" - disse: "são 10 soles por pessoa". Ahá! Tá bom ... tá bom ... comentários sobre esses Aimaras espertinhos no final do post.



     E lá embarcamos nós novamente para mais umas 2 horinhas até a Isla Amantani, onde passaríamos o dia e a noite.
     Chegando na ilha, os "locais" já estavam à nossa espera. Parecíamos "gado", ou então adolescentes na aula de Educação Física. Explico: os "gringos" ficaram de um lado, e as mulheres locais (até agora não sei por que só tinham mulheres ali, aliás, vi poucos homens na ilha) que seriam as anfitriãs, de outro. E aí elas e o guia (que era um "local" também) íam meio que apontando e escolhendo/decidindo quem ía ficar na casa de quem. Tive que rir. Ficamos eu, o Felipe e o casal de espanhóis, digo, galegos, na mesma casa, da senhora Ricarda.

     Chegamos na casa e fomos nos ajeitar nos quartos, esperar até que o almoço ficasse pronto. Minha nossa, queria que minha mãe me visse fazendo aquilo, fresca do jeito que eu sou ... hehehe ...


     Sem demora, Ricarda nos chamou para almoçar. Aí é que residia o meu medo, dada as minhas restrições alimentares. A cozinha era a única parte da casa que tinha luz, proveniente de um painel solar. Tudo muito simples, um fogão à lenha feito de barro, sem água encanada ... (eu até gora não se de onde ela vinha com os galões cheios de água. Até prefiro não saber). Comemos uma sopa de quinua e vegetais produzidos na ilha, e ainda nos foi servido um pratinho com pequenas batata cozidas, milho, tomate, pepino e uma grossa fatia de queijo frito. Para beber, chá de coca ou chá de muña.




     Depois do almoço descansamos um pouco e fomos encontrar o restante do grupo na pracinha central da ilha, onde nosso guia nos aguardava. O objetivo era fazer um trekking morro acima, até as ruínas de um templo do período pré-incaico. A ideia era ótima, mas olhei pra subida, olhei pra mim, olhei pra subida ... não não não. Não conseguiria ir mais adiante. Estava realmente cansada e me faltava fôlego. Fiquei de ver as fotos que o Felipe tiraria.


 
     Voltei pra casa e conversei bastante com o Xose, que junto com a Imelda possui uma empresa de arqueologia na Espanha.


      A noite caiu, um temporal veio, o frio (muito frio!) apertou e o Felipe chegou. A janta estava pronta. Sopa de quinua com vegetais. Again. E também um arroz com batatas e legumes. Conversamos um pouco com a Ricarda, para entender melhor a cultura dela e o funcionamento da ilha.
     Logo depois da janta, a Ricarda apareceu com um monte de roupas dela e começou a tentar colocá-las em mim. O diálogo era meio complicado, então fui fazendo o que ela mostrava. O Felipe não foi deixado de fora, e mesmo com a rinite, se obrigou a meter um poncho de lã pela cabeça. As roupas eram para a festa que aconteceria logo mais.
     Caminhamos no escuro e na chuva (praticamente não há luz na ilha, somente um ou outro painel solar e nós tínhamos só uma lanterninha), por caminhos estreitos de terra morro abaixo, até chegarmos em uma espécie de salão comunitário. Lá dentro estavam todos os turistas com seus anfitriões e um grupo de músicos. Logo começaram a dançar etc e tal. Para acompanhar o baile, uma Cusqueña quente que dava dó (lembra que não tinha luz?).

   NOTES AND TIPS


- DIVIDINDO UM TÁXI COM DUAS URUGUAIAS: na estação rodoviária, duas uruguaias que estavam conosco no bus Cusco-Puno vieram nos perguntar se já tínhamos organizado nosso passeio pelo Lago. Estávamos conversando e um enxame de pessoas nos cercaram oferecendo mil tours. Um estresse, Conseguimos nos livrar deles para tomar um táxi. Elas iriam até a Plaza de Armas, e nós para o hotel. Elas negociaram com o taxista o valor de S./ 5, para que ele nos deixasse no nosso destino e depois as deixasse na tal praça. Sucede que no meio do caminho o taxista para o carro, aponta para os os dois lados da rua e diz: "por ali é a praça, e por ali é o hotel". E disse que pararia ali, que por S./ 5 era o que ele podia fazer. Imediatamente começa uma discussão entre as gurias e o taxista, num espanhol maluco falado à velocidade da luz! Eu e o Felipe não estávamos entendendo absolutamente nada. Eu não sabia se eu podia rir, mas que deu vontade, ah, isso deu. Depois de alguns palavrões mútuos (isso eu entendi), as uruguaias foram descendo, pegando as mochilas, dizendo que não íam pagar nada, que íam chamar a polícia, que o combinado não era aquele e blá blá. A cara delas era de botar medo! No final das contas o taxista foi embora resmungando e nós ficamos ali, rindo um pouco juntos. Nos despedimos. Mas Puno é "pequena", e logo nos encontraríamos novamente.

- AS IMPRESSÕES SOBRE PUNO: Puno parece uma favela. Uma grande favela. É tudo muito feio e ficamos assustados logo que chegamos. Quase todas as construções parecem inacabadas (acho que eles não conhecem a palavra "acabamento"). Além disso, fora a orla do Titicaca (e ali é super sujo), é morro e morro. Não gostamos de Puno.



- AS ILHAS FLUTUANTES DE UROS: estas são ilhas artificiais, feitas com Totora e cordas e que podem ser movidas quando eles bem entendem, até âncora elas possuem. Existem dezenas de ilhas como essa no Lago Titicaca. Vivem em cada ilha em torno de 5 ou 6 famílias, tendo ilhas menores e outras bem grandes, que abrigam até escolas para a população local. Somente os nativos Aimaras podem cortar e usar as Totoras. Eles não tem onde plantar, se alimentam com essa planta (parece um bambu, um palmito) e comem patos eventualmente. Pelo menos, foi isso que disseram. Mas a palavra que resume tudo é: teatro. Sinceramente, eu podia ter saído do magnífico Titicaca sem ter dado essa parada.

- E O MAL DE ALTITUDE ...:  Eu e a Imelda quase morremos para ir morro acima até a casa da nossa mamma temporária. Tive que parar umas duas vezes. Além de ser uma "pernada", era íngreme, o sol pegava na cabeça, e ainda tinha a tal da altitude. A Ilha fica há mais ou menos 4.000m de altitude. Faltou ar, deu dor de cabeça. Aí a Ricarda (que falava quechua e entendia um pouco de espanhol) parou, se meteu em algum mato e me trouxe uma planta. Eu perguntei se era pra cheirar ou comer e ela não entendeu direito, fazia uns gestos. Bom, comi. Era muña, uma plantinha que parece um orégano, mas com cheiro de hortelã e gosto bem forte, mas bom. A muña é muito melhor que Coca para tratar dos efeitos de altitude. Eu melhorei quase que na hora. Além disso, as mulheres na ilha a usam como contraceptivo, tomando chás periodicamente. A maioria delas tem somente 1 ou 2 filhos na ilha, para controlar a população de acordo com o espaço e a produção de alimentos.

- VIVÊNCIA NA ISLA AMANTANI: a Isla Amantani é grande e nela moram cerca de 4.000 pessoas. Eles criam poucas ovelhas e se dedicam principalmente ao cultivo de batatas, quinua e milho. Há alguns anos a ilha se voltou para o turismo. É tudo feito para os turistas que chegam do mundo inteiro. As famílias interessadas em participar dos programas fazem um cadastro e se adequam às algumas poucas exigências. Todos os dias chegam dezenas de turistas à ilha e há um sistema de rotatividade para que todas as famílias possam ganhar com essa atividade. Todas as refeições e atividades são padronizadas e muitos dos anfitriões não falam espanhol. Na verdade é tudo meio fake também, mas vale muito a pena.

- O TOUR PELO LAGO TITICACA: existem muitos passeios diferentes e dezenas de agências. Dizem que o lado boliviano do Lago é mais bonito (Isla del Sol, Copacabana), mas não tive oportunidade de conhecer. Partindo de Puno, o mais comum é conhecer as Islas Flotantes de Uros e a Isla Taquille. Enviei e-mail para quase todas as agências de Puno para fazer uma cotação do passeio que queríamos fazer. Aqui valeu o que eu já tinha lido em alguns relatos no www.mochileiros.com: não precisa e nem vale a pena marcar os tours com antedecência desde o Brasil. É só chegar em Puno, na rodoviária mesmo (ali tem várias agências de turismo) ou então no "porto", que se consegue um passeio com certeza. E ainda melhor: negociando e baixando preços. O tour de 2 dias (Islas Flotantes, Isla Amantani, Isla Taquille) custa em torno de S./ 75 se bem negociado. Caso vá pernoitar em Amantani, uma boa dica (que não sabíamos) é negociar com a agência apenas o valor do transporte, deixando para pagar pela acomodação e alimentação diretamente para os anfitriões (dizem que as agências exploram o povo na ilha e não lhes repassam um valor justo). No final das contas, o próprio hotel que tínhamos reservado para 1 das noites acabou nos oferecendo um valor mais em conta do que todas as agências e fechamos com eles.

- QUANTO CU$TA:
Táxi da rodoviária até a Plaza de Armas: S./ 4
Passeio de 2 dias (Islas Flotantes de Uros + Amantani + Taquille), com transporte, guia, acomodação, 2 almoços, 1 janta e café da manhã: U$40