Um stopover em Helsinki


     A ida para a Finlândia surgiu meio que por acaso. Já tinha lido sobre (afinal, quem nunca ouviu falar da terra do Papai Noel, a Lapônia?), achado interessante, mas realmente o lugar não estava no meu top 10 de must go.
     Ao decidirmos fazer uma trip pela Rússia, começamos a escolher outros destinos no entorno, para aproveitar os dias "extras" que teríamos na viagem. Decidimos ir até a Suécia, Estocolmo especificamente, especialmente depois que li o relato do Tiago Caramuru, que redige o excelente Esvaziando a Mochila. E aí comecei a pesquisar como faríamos para chegar à Suécia. De avião? Não, muito caro. De trem? Não, sem ligações diretas. Então ok, quem sabe de navio? Feito!
     Mas e o que a Finlândia tem a ver com isso? Bem, decidindo que iríamos da Rússia até a Suécia de navio, encontrei uma empresa, a St. Peter, que faz o trajeto de São Petersburgo (nosso ponto final na Rússia) até Estocolmo. O problema é que os navios da St. Peter não partem da Rússia todos os dias, e aí ficou mais complicadinho pois teríamos que reorganizar o roteiro. Foi aí que encontrei uma outra empresa, a Tallink Silja. Os navios da empresa sueca partem de Helsinki para Estocolmo diariamente, então optamos por ir de São Petersburgo até Helsinki de trem, e de lá, pegar um navio até Estocolmo. E foi assim que um pedacinho da Finlândia surgiu no meu diário de bordo.
     O trajeto de trem entre a Rússia e Finlândia merece um capítulo à parte. Não por conta da viagem em si, no excelente Allegro, mas pelos pormenores que se sucederam (glup!). Comentários no final do post.

     Enfim, saímos cedo de São Petersburgo e chegamos à Finlândia (Suomi, na língua local) ainda pela manhã. Na belíssima estação de trem, compramos um bilhete de transporte público ilimitado, válido para o dia todo. A ideia era tomarmos os trams que circulam por toda a cidade, para aproveitarmos o máximo possível as horinhas que teríamos. 
     Deixamos as malas no porto (de onde partiríamos mais tarde) e seguimos para a Market Square, onde fica o Mercado Kauppatori. Esse mercado é fantástico. Aliás, Helsinki é a cidade dos mercados públicos e das feiras livres. Kauppatori, especificamente, é o lugar certo para se fazer uma boa refeição. Existem dezenas de barraquinhas vendendo tudo fresquinho, muito simples, mas limpo e bem organizado, e com preços super acessíveis. As pessoas são lindas, educadas e simpáticas. Até um vegetariano, como eu, se sai muito bem em meio à tantos pratos à base de peixes e frutos do mar (sempre dou meu jeitinho brasileiro e faço adaptações).









      Após saciar a fome e comprar alguns souvenirs (oh God, não nos livramos desse hábito!), fomos até um outro Mercado, o Old Markt Hall, que foi recentemente restaurado. Super limpo e organizado, parece até um shopping. Com delícias de encher os olhos, mas é necessário preparar um pouco o bolso.

     Seguindo a programação, fomos até a Senate Square (Senaatintori), conferir a imponente Catedral de Helsinki (Helsingin Tuomiokirkko). Ela foi construída no período em que o território finlandês ainda pertencia à Rússia e, portanto, lá está sua enorme cúpula verde seguindo a arquitetura das Igrejas Ortodoxas. A construção é belíssima e causa impacto pelo seu tamanho, mas o bacana mesmo é a escadaria em frente à ela. Vale dar uma descansada por ali e aproveitar para observar a movimentação cotidiana.


     Aí o tempo começou a fechar, fazer cara de poucos amigos. Tínhamos planejado ir até o Parque Sibelius (que abriga um monumento homônimo) e até a Igreja de Pedra (Temppeliaukio Kirkko), mas por conta da ameaça eminente de chuva, fizemos um desvios no roteiro.
     Resolvemos fazer o tal "tour de tram", recomendado inclusive pelo Centro de Informações Turísticas. Como já tínhamos comprados bilhetes com validade para o dia inteiro, seria uma mão na roda. Ali mesmo na Senate Square tomamos o tram número 4, que faz a rota conhecida como "Arquitetônica". E depois, já que a chuva não vinha, tomamos o tram números 8 e 9 para ir até o Design District.
     A Finlândia também é conhecida por ser uma terra de vanguarda, de artistas icônicos, modernos, arrojados. Não é à toa que na capital encontramos uma região inteirinha dedicada à lojas e ateliês dedicadas às novas artes (em todos os sentidos): o Design District. Nas ruas do bairro encontramos lojas com ares mais retrô, algumas lojas com roupas esquisitas, vitrines estranhas e divertidas e muitos ateliês dedicados à design de interiores. São ruas lindas, arborizadas, tranquilas, valem uma caminhada sem pressa, com pausa para um café ou outro. Mas como nem tudo são flores, os preços nas redondezas são bem salgadinhos, então as coisas enchem os olhos, mas não as malas. Para quem quiser vivenciar um pouco mais essa explosão miscigenada de arquitetura e design, há vários tour dedicados somente à isso, como o Design Tours, por exemplo.


     Ali mesmo nas redondezas fomos até o Mercado Hietalahti, mais um dos mercados super bonitinhos em Helsinki. O diferencial é que em frente ao Mercado rola o Hietalahti Flea Market, quase o ano inteiro, especialmente no verão. Não é super organizado, mas rolam ótimas pechinchas, especialmente de roupas.


     Bom, como já esperávamos, a chuva veio. Não tinha mais muito o que fazer, pois os espertos não tinham guarda chuva. Antes de rumarmos ao porto de Helsinki, demos uma caminhada rápida pelas ruas Mannerheimintie e Aleksanterinkatu, uma paradinha na enorme loja Stockmann e para finalizar, no Hard Rock Café, onde bato ponto em todo lugar que vou.



     Helsinki deixou um gostinho de quero mais, disso não há dúvidas! Queria ter tido mais tempo para visitar os museus de design e de arte moderna, de viver um pouco as experiências dos food trucks que espalham pela cidade nos finais de semana. Mas voltaremos, porque um dia só foi pouco para uma cidade que oferece tanto!

NOTAS (À PROPÓSITO)


- Um país "super online": em Helsinki, prepare o seu leitor de QRCodes, eles estão por tudo! Há intenet wifi livre por toda a cidade e, segundo percebemos, os finlandeses realizam as mais simples tarefas diárias utilizando seus smartphones, como a compra de bilhetes de transporte, por exemplo.

 - O painel que contabiliza: achamos muito interessante o painel digital que encontramos em frente ao Old Markt Hall. O painel mostrava indicadores da quantidade de bolsas de sangue disponíveis para transfusão. É uma iniciativa da Cruz Vermelha, com objetivo de incentivar as doações. Mas não sei se referia à algum banco de sangue específico ou não. Bom, fica a dica.

Transporte em Helsinki: abuse dos trams! São super eficientes, confortáveis e pontuais. As linhas são marcadas por números e é super simples de usar. Os valores dos tickets variam entre 2,50 (single journey) e 8,00 (day ticket) e podem ser comprados diretamente com os motoristas ou então em bancas de jornais (dentro da estação de trem há uma banca do lado esquerdo do desembarque).

Tour de Trams: tomando trams é possível chegar a todos os pontos mais interessantes da cidade. As linhas 2, 4 e 6 são as mais recomendadas. Para saber mais clique aqui e aqui.

O finlandês: impossível. Simplesmente impossível de falar! Desistam terráqueos!

- O trem entre São Petersburgo e Helsinki: o trem que faz o trajeto entre St. Pete e a capital finlandesa, o Allegro, é super confortável, rápido, moderno. É possível comprar bilhetes tanto no site da companhia ferroviária russa (fiz um post sobre isso aqui) quanto na companhia ferroviária finlandesa. Chegamos em cima da hora para o embarque no Allegro. Antes de embarcarmos, passamos por uma revista e nossas malas por um raio-X. Mostramos os passaportes e estava tudo ok. Até que ... bem, um policial russo pediu que eu abrisse minha mala. E o trem quase partindo. Putz! Aí abri a tal de mala (que pesava uns dois milhões de quilos e tinha o tamanho de um container). Ele implicou com uns souvenirs que eu tinha comprado em Moscou. Os tais souvenirs consistiam em simples lembranças da Segunda Guerra Mundial, a saber, meras balas de fuzil (ou coisa parecida, já que não entendo nada de armas). O que acontece é que essas balas (uma da artilharia francesa, uma alemã, uma russa e uma outra bem grandinha, também russa) não continham pólvora, ou seja, eram só o shape mesmo, por isso achei que não haveriam problemas. Ai Jesus! E meu pai já olhava com cara de "eu te disse que não era pra trazer essas porcarias". E o trem quase partindo. E o homem olhando, abrindo, virando. E o trem quase partindo. Até que eu fiz cara de choro e gestos (sim, o cara não falava inglês) pra mostrar que o trem ía partir e ele me liberou. Ufa!
     No meio do caminho até Helsinki, um pouco antes da fronteira, o trem parou. Entraram uns 4 ou 5 agentes da polícia russa, conferindo os passaportes, Não sei porque eles fazem aquelas caras aterrorizantes só para conferir passaportes. Ok, pensei. Como já havia lido sobre, sabia se tratar de um procedimento de praxe. Aí vi que um dos agentes encasquetou com um guri que estava alguns assentos à frente. Fizeram o guri abrir a mochila e haviam vários livros dentro da dita cuja. Um agente chamou o outro e folhearam cada página, de cada livro. O guri branco, azul. Acho que o coitado não estava devendo nada, mas a cara dos policiais ... uou! Até quem não deve, já fica pensando nas mil coisas que possa ter feito ou falado de "errado". Chegou a nossa vez, entregamos os 4 passaportes. Um chamou o outro, olharam, olharam. E nós ali, com cara de tacho e sorriso forçado. Até que uma policial aponta pra mim e pegunta: "cade a tua bagagem?". Putz! Denovo não! Por que eu oh lord?! Na real que eles estavam escolhendo pessoas aleatoriamente, e acho que meu sorriso não foi suficiente para derreter o gelo daqueles corações russos. E lá fui eu abrir a mala-container no meio do trem. E mais uma vez as minhas balas foram motivo de meia hora de tensão. Um agente chamava o outro, que falava algo para um terceiro e aí vai. Mostrei que não tinha nada dentro, que eram muito antigas, etc e tal. Mas a cara dos sujeitos ... nisso o trem começou a andar. Pensei: pronto, agora vão desviar a rota do trem e eu vou parar numa daquelas salas de interrogatório de algum Gulag remanescente. E aí o trem parou novamente. Eles me devolveram as balas, mandaram fechar a mala e foram embora. Simples assim.
     Mais adiante o trem parou denovo. E aí entraram policiais finlandeses. Tínhamos cruzado a fronteira. Ah não, denovo não! Mas aí foi só para conferir e carimbar os passaportes mesmo, sem mais imprevistos ou revistas. Ufa! Again!
     Pra quem ficou se perguntando que fim deram as balas: na volta para o Brasil saímos do aeroporto de Tallin (Estônia) rumo ao aeroporto de Domodedovo, em Moscou, fazendo escala em Riga (Letônia). As balas estavam na mala e chegaram sem problemas à Rússia. De Moscou fomos para Frankfurt (Alemanha) e lá vi que minha mala havia sido violada. No aeroporto russo tiraram as balas e deixaram uma carta, que até hoje não traduzi rsrsrsrsrs. Mas tiraram apenas 3 delas, deixando uma. Até hoje não entendi o por quê. Na Alemanha e no Brasil elas passaram sem problemas. Mas fica a dica: não tragam balas da Segunda Guerra Mundial (mesmo que sem pólvora) como souvenir da Rússia! Mais amador, impossível!

Sites interessantes:

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Helsinki News and Events
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